Todos devem ter acompanhado a confusão criada no Egito, diante um grande movimento popular para a derrubada do então presidente Hosni Mubarak. Assim como aconteceu na Tunísia, a organização dessas manifestações em todos os cantos do país teve a internet, com as redes sociais Facebook e Twitter, como principais ferramentas, permitindo o agendamento das mobilizações e a comunicação em tempo real entre os manifestantes, juntamente com serviços de telefonia celular.
Percebendo isso, imediatamente o governo egípcio bloqueou o acesso ao Facebook e ao Twitter, e convencidos de que com essa ação ainda não conseguiriam interromper a onda de protestos, as autoridades do governo egípcio, pela primeira vez em nossa história, interrompeu todo o tráfego da internet e dos serviços de telefonia celular por cinco dias consecutivos.
O resultado disso foi o completo estado de revolta que levou o país inteiro a participar das manifestações, incluindo a adesão de muitos empresários, pois, com a interrupção dos serviços de comunicação, as empresas se viram vítimas de toda a situação. Não houve qualquer reação por parte dos provedores, deixando as empresas à mercê da própria sorte.
E aqui no Brasil, será que as empresas estão expostas a esse risco? Sim, só que por outros motivos. Acredito que as empresas correm o risco de terem suas operações paralisadas, não por ações de repressão do governo, mas simplesmente por falhas na gestão de órgãos importantes, como é o caso da Eletrobrás Furnas, por exemplo. Enquanto no Egito o governo “derrubava” os sistemas de comunicação propositalmente, aqui no Brasil, nosso próprio sistema elétrico se “auto-derrubava” em uma cascata de falhas, deixando milhões de usuários residenciais e comerciais sem abastecimento de energia elétrica, como foi o caso do apagão do Nordeste em fevereiro deste ano. Logo em seguida, a capital mais rica do país passou por um “mini-blecaute”, atingindo regiões importantes, como a Avenida Paulista. Isso sem contar os históricos apagões nacionais de 2001 e 2009. Só em 2010, foram registrados 91 apagões regionais em todo o Brasil, 48 a mais do que em 2009. Houve um grande aumento dessas ocorrências nas grandes cidades, em especial na região central de São Paulo e na zona sul do Rio de Janeiro, levando comerciantes e empresários a se acostumarem com a contabilização constante de prejuízos.
E quanto a ANATEL, que mesmo em meio a tantas denúncias contra as operadoras de telefonia e internet devido às altas tarifas cobradas e à baixa qualidade dos serviços prestados, não consegue impor o mínimo de compromisso dessas empresas para com seus clientes?
Para as empresas que dependem diretamente de um ambiente informatizado, o prejuízo é ainda maior. As consequências dessas falhas são as mais variadas: equipamentos danificados, falha de integridade na base de dados, corrupção de arquivos dos sistemas e interrupção das atividades e das operações que suportam o negócio.
Aquelas que não investiram tempo em criar planos de continuidade/recuperação de desastres e não investiram dinheiro para adquirir soluções tecnológicas que suportem os serviços nos momentos de parada podem apenas contar com a sorte. E é o que muitos fazem, acreditando que a quantidade de ocorrências desse tipo não justifica o investimento. Pois bem, eu começaria a mudar de ideia o quanto antes.
Atualmente, vivemos um bom momento no país, com a estabilização da economia, gerando um significativo aumento na produção de bens e serviços. Para dar suporte a isso, é necessária uma grande demanda de fornecimento de energia elétrica, e é justamente aí que começa o problema. Segundo especialistas no setor energético, corremos sérios riscos de novos apagões, contrariando as palavras do governo. É claramente perceptível a limitação na distribuição da energia gerada e a deficiência das empresas operadoras desse setor.
Tenho observado em diversas empresas de pequeno e médio porte uma procura maciça por geradores de energia, seja para compra ou aluguel. Fabricantes comemoram o aumento de 70% nas vendas desse produto, segundo uma matéria recente de grande jornal em circulação de São Paulo. Isso é o reflexo da desconfiança dos empresários que têm observado as constantes falhas no fornecimento de energia na região.
Mesmo com esse aumento significativo, ainda é grande a falta de estrutura e preparo das Pequenas e Médias Empresas referente à prevenção desse tipo de incidente de segurança da informação. Não estou aqui dizendo que todos devam ter um gerador em sua empresa para suprir as constantes falhas de fornecimento de energia, mas que cada um saiba o que fazer durante a ocorrência de um evento dessa natureza.
Ao analisar o negócio de cada empresa e o setor de mercado ao qual ela pertence, poderemos chegar à conclusão de que ela pode ficar algumas horas sem acesso aos seus sistemas enquanto outras, por exemplo, precisam de alta disponibilidade, inclusive nos finais de semana.
Mais do que adquirir tecnologia para suprir essa carência, é necessário ter um plano de contingência e também um plano para recuperação de desastres, pois nenhuma atividade está totalmente isenta de riscos de parada. Saber o quanto de tecnologia cada empresa necessita investir e o quanto ela depende de pessoas para executar tal ação é o papel das consultorias de segurança, que possuem uma visão abrangente das necessidades de todo o negócio, e não apenas do departamento de T.I.
Com a tecnologia definida e as pessoas responsáveis claramente identificadas, damos o passo seguinte, que é escrever os procedimentos detalhadamente. Para validar toda essa etapa, realizamos testes periódicos com toda a equipe.
Independentemente dos motivos que podem levar à interrupção do nosso sistema de energia e comunicação, devemos assumir a responsabilidade de pelo menos nos proteger de tais falhas, para preservar a continuidade do nosso negócio e a imagem de nossa empresa.
Ah, após o Egito, foi a vez de o governo da Líbia apertar o botão “off” da internet. Quem será o próximo?
Roberto Henrique
roberto@abctec.com.br
Publicado em iMasters