Um ano após a espionagem em escala mundial realizada pela Agência Nacional de Segurança Americana (NSA), dos Estados Unidos , ter sido revelada pelo técnico Edward Snowden e o jornalista Glenn Greenwald, o repórter apresenta novos detalhes sobre o caso em um livro recém-lançado.
“Sem lugar para se esconder” (Editora Sextante) relata como a NSA coleta dados de pessoas no mundo inteiro, reitera que os EUA têm interesse em informações econômicas dos países espionados e mostra de que forma a agência norte-americana intercepta produtos como roteadores comutadores de rede quando eles estão em trânsito para os consumidores.
Segundo Greenwald, a agência abre pacotes, implanta dispositivos de vigilância nos aparelhos, e os devolve lacrados para os usuários sem que eles saibam disso.
“Eles abrem o produto e colocam um programa para todos as informações, todos os dados irem para a NSA, fecham o pacote e mandam para a pessoa que comprou. E esses produtos são usados para dar serviços de internet para muitas pessoas”, disse Greenwald.
No livro, Greenwald traz bastidores das entrevistas com o ex-funcionário terceirizado da NSA no Havaí, Edward Snowden, que, após as denúncias, segue recluso em localização desconhecida na Rússia.
“No livro estão muitos documentos mostrando que o objetivo da NSA não é monitorar comunicações entre terroristas ou pessoas que estão planejando violência. O objetivo é coletar informações na internet e no telefone sobre o que todas as pessoas do mundo estão fazendo”, contou o jornalista. Ele diz que o maior foco da espionagem norte-americana é no setor econômico, o que a NSA nega veementemente fazer.
Greenwald afirmou, em entrevista ao G1 nesta quinta-feira (5), que os EUA acusam o governo da China de fazer espionagem econômica, mas que os americanos fazem o mesmo.
De acordo com o jornalista — que deixou a profissão de advogado após o atentado ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001– o livro traz novidades sobre os programas usados para interceptar comunicações de internet e telefones celulares realizadas a partir de aviões, além de novas informações sobre como a NSA atua com agências de inteligência estrangeiras, como as financia, quais são seus alvos de espionagens e como elas trabalham juntas.
Greenwald afirmou que o governo americano está usando o terrorismo para justificar atos como “invadir o Iraque, fazer tortura e prender pessoas”.
Segundo o autor de “Sem lugar para se esconder”, uma investigação feita pelo governo americano para entender porque o ataque de 11 de setembro pôde acontecer sem os Estados Unidos ficarem sabendo mostrou que o problema não foi a NSA não coletar informação suficiente.
“O problema era o oposto. Eles tinham informação para saber que o ataque estava sendo planejado, mas eles não conseguiam entender o significado do que coletaram. Depois disso eles resolveram coletar tudo e o problema piorou. Quando você está ouvindo ligações da [chanceler da Alemanha] Angela Merkel ou da Dilma, ou lendo e-mails da Petrobras, você não está mantendo o foco de ter informações de pessoas que vão atacar os Estados Unidos”, disse.
Paranoico
Após ter trazido à tona o maior caso de espionagem do mundo, o jornalista diz que se sente ameaçado pelo governo dos EUA desde a primeira matéria que publicou sobre o caso. No entanto, tenta esquecer os riscos para “não ficar paranoico”.
Ele voltou a falar sobre a necessidade de os governos – inclusive o brasileiro – se precaverem em relação à privacidade investindo em tecnologia de criptografia. “É muito mais fácil proteger a privacidade na internet do que destruir. Criptografia não é muito difícil em comparação com o desafio de invadir a privacidade. Médicos, advogados e jornalistas que tenham que proteger pacientes, clientes e fontes precisam usar a criptografia”, defendeu Greenwald.
O jornalista considera a aprovação do Marco Civil positiva, mas acredita que a falta de punição rigorosa deixou a lei fraca. “Essa lei precisa de muito mais limites sobre o que as empresas privadas precisam fazer, como o Facebook e o Google. É mais difícil porque eles têm muito poder. Os governos precisam se posicionar e dizer a essas empresas que se elas fornecem dados de usuários para a NSA, que elas não podem permanecer no país. E o Marco Civil não tem isso”, opinou o jornalista.
Fonte: G1
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